Uma
das principais mudanças na sociedade dos últimos tempos é a liberação de alguns
costumes e práticas e a aceitação de outras tantas. Seja legalizar a maconha ou
cogitar a legalização do aborto até a aceitação por leis do casamento
homossexual. A sociedade em que vivemos atualmente tende a aceitar mudanças de
traços mais drásticos com mais facilidade que a sociedade em que nossos pais ou
avós viviam.
Porém,
apesar dessa grande revolução, a sociedade ainda sofre muito com o preconceito.
Casos de racismo, xenofobia e discriminação por conta da desigualdade social são
comuns nas capas de jornais. E dentre estas situações, os homossexuais também sofrem.
Lemos notícias que retratam jovens gays ou lésbicas que são agredidos sem mais
nem menos em plena rua, à luz do dia. Simplesmente por serem contrários a ‘natureza
do ser’.
Se
trouxermos estes assuntos sociais para o esporte, vamos nos deparar com muitos
casos dos mesmos preconceitos. Mas, mesmo havendo esta discriminação, as pessoas,
no geral, continuam enfrentando os tabus e lutando por seus direitos de serem
como elas são. Atletas do vôlei, do basquete, do futebol americano vêm se
assumindo homossexuais a cada mês, a cada semana, até mesmo no futebol. Mas, e
o no futebol brasileiro?
Este
esporte tão adorado pelo brasileiro também é repleto de preconceitos. Negros
sofrem de racismo em campo, nordestinos são alvo de chacota pela torcida. Mas,
e os gays? Este tabu imenso não consegue ser quebrado, nem dado o primeiro
passo.
Dois
casos chamam muito a atenção: do volante e lateral-esquerdo do Atlético-MG
Richarlyson e do atacante do Corinthians Emerson Sheik. Ricky, como foi
apelidado pelos companheiros, na época em que atuava no São Paulo, por seu nome
ser muito longo, era crucificado pela torcida de seu próprio time. Por conta de
seu estilo de roupa extravagante, seus penteados ousados, o jeito de correr e,
até mesmo, sua voz mais fina fizeram os torcedores rivais pegarem no pé de Richarlyson. Muitas histórias
rondam os muros do clube do Morumbi colocando em jogo a opção sexual do atleta,
mas nunca nada foi comentado pelo próprio jogador. Uma vez, um dirigente do
Palmeiras, um dos principais rivais do São Paulo, deu a entender que Ricky
seria gay. O volante o processou e venceu a disputa judicial.
Emerson
Sheik teve uma atitude diferente. O camisa 11 do Timão usou as redes sociais
para postar uma foto dele beijando um amigo, mesmo que sendo apenas um ‘selinho’.
Não bastaram explicações e negações por parte do atleta. Os torcedores do time
da capital paulista se revoltaram contra um ‘veado’ em seu time. Lembrando, que
Sheik foi quem deu o título da Libertadores ao Corinthians, após marcar dois
gols na final contra o Boca Juniors da Argentina. Será que o torcedor
brasileiro tem memória fraca ou é preconceituoso? Ou será os dois juntos?
Emerson Sheik e o selinho polêmico. (Foto: Reprodução/Instagram) |
O
Corinthians apareceu em 2013 nos noticiários em mais uma polêmica. Nada
referente ao clube em si, mas à sua torcida. Conhecido pela fidelidade, a
torcida corintiana ‘Gaviões’ é considerada a maior do Brasil. Mas, eles parecem
não estar dispostos a ver a torcida do Alvinegro crescer. A proposta de
fundação da primeira torcida organizada gay do Brasil, a ‘Gaivotas da Fiel’,
fez os membros da ‘Fiel’ mais famosa se exaltar e jurar que se os torcedores da
‘Gaivotas’ tentassem assistir a um jogo do Timão no estádio iriam apanhar. Os próprios
meios de comunicação, além, lógico, das torcidas rivais barato e afirmou.
- No fim das contas, existe
coisa mais gay que um estádio? São 60 mil homens suando, se abraçando, olhando
outros 22 de shortinhos correndo.
Isso é uma manifestação homossexual.
Pesquisas
apontam que 74% do público que assiste a futebol no Brasil é homem. A única
explicação pra tamanho tabu e silêncio é que os jogadores devam acreditar que a
sua opção sexual influencie em sua imagem, fazendo com que clubes não o queiram
em seus elencos. Seria uma perda de espaço em seu meio de atuação. Mas, nós não
estamos em uma sociedade renovada, livre e que cada um pode escolher e deve ser
respeitado por suas escolhas?
Parece
que nem todas elas.