quinta-feira, 13 de março de 2014

Homossexualidade no futebol brasileiro: um tabu gigante

Uma das principais mudanças na sociedade dos últimos tempos é a liberação de alguns costumes e práticas e a aceitação de outras tantas. Seja legalizar a maconha ou cogitar a legalização do aborto até a aceitação por leis do casamento homossexual. A sociedade em que vivemos atualmente tende a aceitar mudanças de traços mais drásticos com mais facilidade que a sociedade em que nossos pais ou avós viviam.

Porém, apesar dessa grande revolução, a sociedade ainda sofre muito com o preconceito. Casos de racismo, xenofobia e discriminação por conta da desigualdade social são comuns nas capas de jornais. E dentre estas situações, os homossexuais também sofrem. Lemos notícias que retratam jovens gays ou lésbicas que são agredidos sem mais nem menos em plena rua, à luz do dia. Simplesmente por serem contrários a ‘natureza do ser’.

Se trouxermos estes assuntos sociais para o esporte, vamos nos deparar com muitos casos dos mesmos preconceitos. Mas, mesmo havendo esta discriminação, as pessoas, no geral, continuam enfrentando os tabus e lutando por seus direitos de serem como elas são. Atletas do vôlei, do basquete, do futebol americano vêm se assumindo homossexuais a cada mês, a cada semana, até mesmo no futebol. Mas, e o no futebol brasileiro?

Este esporte tão adorado pelo brasileiro também é repleto de preconceitos. Negros sofrem de racismo em campo, nordestinos são alvo de chacota pela torcida. Mas, e os gays? Este tabu imenso não consegue ser quebrado, nem dado o primeiro passo.

Richarlyson em sua coletiva de despedida do São Paulo.
(Foto: Luiz Pires/VipComm)

Dois casos chamam muito a atenção: do volante e lateral-esquerdo do Atlético-MG Richarlyson e do atacante do Corinthians Emerson Sheik. Ricky, como foi apelidado pelos companheiros, na época em que atuava no São Paulo, por seu nome ser muito longo, era crucificado pela torcida de seu próprio time. Por conta de seu estilo de roupa extravagante, seus penteados ousados, o jeito de correr e, até mesmo, sua voz mais fina fizeram os torcedores rivais  pegarem no pé de Richarlyson. Muitas histórias rondam os muros do clube do Morumbi colocando em jogo a opção sexual do atleta, mas nunca nada foi comentado pelo próprio jogador. Uma vez, um dirigente do Palmeiras, um dos principais rivais do São Paulo, deu a entender que Ricky seria gay. O volante o processou e venceu a disputa judicial.

Emerson Sheik teve uma atitude diferente. O camisa 11 do Timão usou as redes sociais para postar uma foto dele beijando um amigo, mesmo que sendo apenas um ‘selinho’. Não bastaram explicações e negações por parte do atleta. Os torcedores do time da capital paulista se revoltaram contra um ‘veado’ em seu time. Lembrando, que Sheik foi quem deu o título da Libertadores ao Corinthians, após marcar dois gols na final contra o Boca Juniors da Argentina. Será que o torcedor brasileiro tem memória fraca ou é preconceituoso? Ou será os dois juntos?

Emerson Sheik e o selinho polêmico.
(Foto: Reprodução/Instagram)
O Corinthians apareceu em 2013 nos noticiários em mais uma polêmica. Nada referente ao clube em si, mas à sua torcida. Conhecido pela fidelidade, a torcida corintiana ‘Gaviões’ é considerada a maior do Brasil. Mas, eles parecem não estar dispostos a ver a torcida do Alvinegro crescer. A proposta de fundação da primeira torcida organizada gay do Brasil, a ‘Gaivotas da Fiel’, fez os membros da ‘Fiel’ mais famosa se exaltar e jurar que se os torcedores da ‘Gaivotas’ tentassem assistir a um jogo do Timão no estádio iriam apanhar. Os próprios meios de comunicação, além, lógico, das torcidas rivais barato e afirmou.
- No fim das contas, existe coisa mais gay que um estádio? São 60 mil homens suando, se abraçando, olhando outros 22 de shortinhos correndo. Isso é uma manifestação homossexual.

Pesquisas apontam que 74% do público que assiste a futebol no Brasil é homem. A única explicação pra tamanho tabu e silêncio é que os jogadores devam acreditar que a sua opção sexual influencie em sua imagem, fazendo com que clubes não o queiram em seus elencos. Seria uma perda de espaço em seu meio de atuação. Mas, nós não estamos em uma sociedade renovada, livre e que cada um pode escolher e deve ser respeitado por suas escolhas?


Parece que nem todas elas.